Consulta médica de répteis - O que seu réptil precisa. O que você precisa fazer por ele.
Tenho atendido uma série de
espécies silvestres e selvagens e noto que as pessoas que se importam com seus
animais não sabem quando e o que deve ser feito em uma consulta periódica. Para
tanto levantarei alguns fatos:
Quando?
ü Sempre
que se adquire um animal e se pretende leva-lo para casa (muitas vezes, juntar
a outros).
ü Sempre
que se deseja iniciar um programa de reprodução (muitas vezes coleções inteiras
são destruídas pela aquisição de animais doentes e sua colocação em grupos
sadios – Infelizmente eu mesmo já passei por isso).
ü Semestralmente
é o ideal. Anualmente é o mínimo. Veterinários entendem que sua coleção é ampla
e provavelmente uma visita e exame em mais de 2 animais pode ser negociada com
eles.
ü Imediatamente
ao se notar algo diferente. Normalmente analisamos o input – comida e o output –
fezes. Frequência, quantidade, qualidade.
Um aviso:
Deixar as condições do animal decaírem para pedir ajuda profissional
torna tudo mais difícil para todos.

Não adianta levar um animal
desidratado, fraco, esquálido e caquético ao veterinário, pois mesmo não
sabendo o que causou a doença, você sabe quem foi que tornou tudo mais próximo
da morte para seu animal, ok? Não se finja de inocente. Muitas vezes por
educação e em respeito à ética e também à sua dor não te apontamos o dedo.
O que se faz numa consulta de rotina ideal?
Duas coisas, basicamente: Exame
clínico e exames diagnósticos.
O exame clínico vai constar de
duas fases: anamnese (1/2) e exame físico (2/2).
Na anamnese, o profissional vai
perguntar coisas relativas ao animal, no intuito único de coletar dados para
melhor atende-lo – (o profissional tem o dever de manter sigilo das informações
ali colhidas):
ü Onde,
quando e como adquiriu
ü Antigo
dono ou vendedor
ü Condições
em que foi adquirido
ü O
que lhe foi informado antes da aquisição
ü A
quanto tempo está com ele
ü Quanto
tempo de vida ele tem / diz ter
ü Dieta
anterior e atual do animal
ü Condições
de cativeiro: em grupo ou só, tamanho de recinto, frequência de alimentação,
limpeza, troca e limpeza de vasilha de água, aquecimento, aeração do recinto,
local onde fica, frequência de manipulação, objetivo em ter o animal (e são inúmeros,
você nem imagina), etc
ü Onde
está e como foi colocado o sistema de aquecimento e iluminação. Como funcionam
durante o dia
ü Umidade
média do recinto
ü Tratamento
prévio e quem o tratou antes do anual profissional
ü Marcas
de alimentos, dietas, remédios, suplementos utilizados até então
ü Qual
material de limpeza utilizado na área em que o animal está e dentro desta área
também
ü História
reprodutiva
ü Frequência
de ecdises
ü Modificações
observadas
Tá cansado? Ainda não
fizemos o exame físico.
Prepare-se para aguentar
sugestões que sairão destas perguntas e vamos à fase 2/2.
Dependendo da
espécie, assim como na fase anterior, o profissional irá solicitar que você
retire o animal do recinto, normalmente para ver o grau de interação que você
tem com ele, sua habilidade em manusear e após isso vai examiná-lo na sua mão e
depois vai pegá-lo (é a parte de que gosto mais disso tudo).
Ele vai, dependendo
da espécie, obviamente, observar massa corporal, tônus muscular, consciência,
coloração corporal e de mucosas, atividade característica da espécie (imagine
uma Corallus hortulanus que seja
mansa ao manuseio, uma ball python agressiva ou uma Lampropeltis campbelli que não seja elétrica quando colocada na mão.
Acontece, mas são curvas fora da expectativa ou... algo a se olhar com mais
atenção.
Ele vai checar proporção massa e
tamanho do animal, postura, atitude, atenção, atividade e movimento, orifícios
(ocular, bucal, cloacal, membranas timpânicas) secreções eventuais, vai palpar
celoma, auscultar caso necessário pulmões, observar fezes no recinto (na
verdade, ele já observou seu recinto quando entrou, viu se estava sujo ou se
apenas havia um cocô recente, suas condições de higiene, vasilhas de água,
substrato, material de suporte térmico, etc.).
Aí já poderão haver mais
considerações à respeito do seu animal e sugestões de medidas a serem tomadas. Ouça
todas e faça suas considerações também.
Os exames diagnósticos
Nosso país tem restrições quanto
ao aspecto da modernidade já alcançada na obtenção de melhores diagnósticos
clínicos em animas selvagens, tudo lá fora corre melhor e mais rápido, portanto,
de acordo com o que se procura, algumas concessões PODEM (nem sempre isso
poderá acontecer, mas é possível em alguns casos) ser feitas e a necessidade em
determinados exames pode ser questionada.
Mas em se tratando de um mundo
perfeito, aqui vão as sugestões mínimas quanto a esta fase:
ü Parasitológico
de fezes
ü Hemograma
com bioquímica básica
ü Radiografia
abdome e campos pulmonares
Em decorrência
de muitos fatores (quase ausência de laboratórios que saibam fazer exames em
répteis, dificuldade em determinadas regiões de radiologistas,
ultrassonografistas, anestesistas - é, alguns exames necessitam de
anestesistas- etc que tenham experiência
com animais assim, procuramos minimizar esta necessidade, mas há casos em que é
necessário realizarmos exames, principalmente ao notarmos alterações no exame
clínico.
Neste caso, não dá para procedermos uma shotgun therapy, por exemplo,
num animal com diarreia intensa há dias, há critérios que devem ser
respeitados.
Há duas razões
para se realizar exames. Simples assim. Mas com consequências trágicas ou
gloriosas:
1- Achar
algo
2- Não
achar algo.
No primeiro caso, significa
descobrir o que aflige a saúde do animal, um parasito, uma condição metabólica,
um quadro sanguíneo ruim, um órgão em mau funcionamento.
No segundo caso, o mais
dramático, a experiência nos leva a procurar aquilo que está lá, esperando para
se manifestar junto à doença ou que está oculto pelo quadro clínico e que
colabora com a doença ou causa o quadro clínico, mas não aparenta ter relação
ou mesmo vai se associar a este quadro.
Pode ser um parasito oportunista,
um quadro metabólico desconhecido, um órgão não relacionado diretamente ao
problema, portanto não investigado. Ou uma raiz oculta.
O que eu chamo de raiz oculta? Já
entrou no pântano? A gente fica de olho nos jacarés ao entrar na água. Mas nem
sempre é o jacaré que você está vendo e que mergulhou na sua direção que vai te
pegar.
É aquele que você não vê.
Ou uma aranha perto de sua cabeça, no arbusto
ao seu lado.
A raiz oculta.
O que você não viu. Ou não foi isso.
Você esqueceu
e pisou numa arraia ou numa madeira com ferro.
Muitas vezes as coisas acontecem
assim.
O bom
profissional pode avaliar a situação e solicitar também exames complementares. Fique
preparado para isso, pois em muitos casos, quando a coisa complica, o custo
disso supera em muito o valor financeiro do seu animal. Caso você queira
questionar valores, lembre-se que a razão de solicitarmos exames não está
ligada diretamente ao custo financeiro do animal e sim à sua expectativa de
viver com qualidade e bem.
Trocando em miúdos, solicitamos exames que podem
estourar seu orçamento pelo fato de serem necessários. Apenas isso.
Em
determinados casos, é imprescindível um exame. Trabalhar sem saber torna tudo
mais difícil e compromete a solução do problema, podendo levar o animal a
óbito.
Lembro de um
caso em que um jabuti que estava com prolapso peniano foi examinado, a cirurgia
foi solicitada e ao chegarem os resultados dos exames foi observado que havia
um objeto estranho no intestino, inflamando o local e devido peristaltismo o
animal expunha o pênis.
Isso foi
descoberto numa radiografia, que a princípio, era apenas para avaliar situação
respiratória na cirurgia de retirada de pênis!
Retirar o
pênis do animal não iria resolver nada e o tempo iria complicar tudo! Mas será
que era mesmo necessário pedir radiografia de um jabuti macho, que não possui
fêmea para cruzar e, na estação reprodutiva se encontra com o pênis prolapsado?
Seja quem for
o profissional a quem você recorra, tenha um diálogo honesto com ele. Veterinários
costumam ter o defeito de serem solidários e colaborarem na medida do possível
com as dificuldades de seus clientes.
Adquira confiança no veterinário de seu
animal.
Procure entender o problema a ser solucionado e as opções de caminhos
terapêuticos possíveis.
Caminhem juntos e estabeleçam uma parceria saudável e produtiva.
Seus animais agradecem.
Toda
informação possível, mesmo a que você julga desnecessária, deve ser feita. Sugiro
aos clientes fazerem anotações de seus animais sempre. Tudo pode ajudar.
Em caso de
dúvidas, me ponho à disposição pelo telefone e demais canais de comunicação.
https://ademarcouto.wixsite.com/ademarcoutovet
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