Cuidados Básicos para a Manutenção de Répteis em Cativeiro - Parte I


 

Em primeiro lugar, desculpem o atraso. Por mais difícil que seja, isto se faz necessário, pois a terrariofilia está atrasada vinte ou trinta anos em nosso país. Há muito que correr para diminuir esta defasagem, e o pior tem gente que prefere continuar parado, e isto em todos os setores: lojistas que marcam o passo vendendo as mesmas carpas de 20 anos atrás (nada contra as pobres Carpas, mas é necessário evoluir)

Há pessoas que ainda compram animais em traficantes de esquina em ruas ou feiras livres, vendedores sem interesse (a não ser o de vender), pessoas desinteressadas em conhecer as necessidades dos animais adquiridos (que vem a morrer quinze dias depois, e são trocados por outros iguais) e a ineficiência, beirando a idiotice dos órgãos protetores da fauna, que não incentivam/fiscalizam seriamente a criação de espécies nacionais em cativeiro e não tem coragem de solucionar o problema do tráfico de animais.

Mas esse assunto fica para outra oportunidade. Vamos tecer algumas considerações a respeito das necessidades fisiológicas básicas dos répteis, de forma geral. Os detalhes sobre as espécies poderão vir em próximos comentários. Por enquanto se faz necessário conhecer o básico para depois evoluir no avançado e fazer as coisas do modo certo.
Água
Uma vasilha de água de preferência com cor clara, é ideal e suficiente para os animais, répteis e anfíbios. Certas espécies de serpentes (Lichannura sp.) devem ter vasilhas por menos tempo do que as outras espécies, mas, em se tratando do Brasil e dos animais que estão vindo para cá, uma oferta de água contínua é o ideal.
A limpeza da água e as trocas devem ser, obrigatoriamente, semanais ou quando a água estiver suja.

 Água parada é um ótimo meio para a proliferação de determinadas bactérias do gênero Salmonella, o qual será alvo de nossas atenções nos próximos artigos.

Determinadas espécies não vão beber na vasilha, que só servirá para o controle da umidade do ambiente. Entre estas espécies, podemos citar os iguanídeos das florestas tropicais úmidas, como o Corytophanes cristatus e Anolis .sp., além das lagartixas do gênero Phelsuma, hábitos estes que puderam ser constatados também nesta última remessa feita pela importadora Ecotop em dezembro/95, o que reforçou os nossos cuidados em atender as exigências destes animais, utilizando borrifadores, pelo menos três vezes ao dia.

Água com cloro, sempre que possível deve ser evitada, principalmente em anfíbios, apesar de que conheço excelentes criadores que se utilizam a água direta da torneira para Sauria e Chelonia sem problemas.
Umidade e troca de ar por renovação
O tamanho e a massa corporal dos répteis e anfíbios exercem um papel muito importante quanto à perda de umidade corporal, pois 80% das espécies de lagartos e sapos/ rãs e 95% das salamandras possuem massas corporais quando adultas menores que 20g. De fato, 8% dos lagartos, 17% dos anuros e 20% das salamandras, possuem peso menor que 1 g quando adultos! Logo, qualquer perda hídrica (de água) é significativa e pode matar. No meio ambiente, estes animais sobrevivem dentro de microclimas, ou seja, embaixo de pedras, no meio de musgos, na beira de lagos ou em pequenas poças d'água, ou mesmo embaixo de folhas caídas, dali só saindo quando a temperatura diminuir ou a umidade aumentar.

O nível de umidade média é em torno de 60 a 70'%, de forma geral, quando abaixo disto, adaptamos bem as espécies de deserto, e quando acima disto, as espécies de floresta estão satisfeitas.

É notório que a umidade provoca um crescimento bacteriano no ambiente, portanto é necessário que o terrário possua uma aeração satisfatória, de forma que as trocas gasosas sejam efetuadas constante e ef7cientemente, evitando doenças respiratórias ou de pele, de etiologia bacteriana, viral ou micótica.
Existem vários métodos utilizados para aumentar ou diminuir a umidade dentro de terrários. Convém dizer que este trabalho se trata de uma revisão superficial do assunto, devido ao pouco espaço. Outras informações e mais detalhes devem ser pesquisados em livros ou pela troca de idéias entre pessoas interessadas.
Luz/Fotoperíodo
 A quantidade e a qualidade da luz oferecida aos répteis e anfíbios variam de acordo com a necessidade de cada espécie e com o período de vida que esta espécie esteja passando.

O gradiente adequado de radiação ultravioleta ás diferentes espécies de répteis e anfíbios tem sido a principal preocupação por criadores interessados no bom estado físico e psicológico destes animais. Algumas espécies de répteis e anfíbios parecem necessitar de UV muito mais do que outras. A radiação UV de ondas médias penetra na pele c converte a provitamina D, em vitamina D, esta radiação é a chamada UVB. A radiação UVA é responsável pela coloração da pele e atua a nível de cromatóforos c melanina, ao que tudo indica, c a UVC' tem uma ação bactericida. 
O processo da conversão da provitamina D, em vitamina D" auxiliar na fixação do cálcio ósseo ainda é desconhecido nos répteis, sendo que alguns deles chegam a possuir seis tipos de provitamina D. em sua pele.

Existem no mercado, basicamente, lâmpadas emissoras de UVB de três tipos: as que são utilizadas em aquários para o crescimento de plantas e são fracas emissoras de U V B para répteis, as lâmpadas apropriadas para esta emissão por um período de doze horas ou mais, dependendo da necessidade, e as "blacklight" ou "blacklight blue",

que devem ser usadas por curto espa­ço de tempo, devido à alta emissão destes raios. A recomenda~ao e que tanto BL quanto a BLB não sejam usadas em animais de terrário, caso não haja critério.
E importante frisar que lampa­das de UVB de ondas medias po­dem danificar os olhos, tanto dos animais quanto das pessoas, portan­to cuidados devem ser tomados du­rante o uso.



As serpentes retiram normal­mente do alimento a vitamina D3 que necessitam, precisando mais do fotoperíodo correto do que da lâmpada propriamente dita. No mi­nha opinião pessoal, para o bem-estar físico e psicológico, faz-se necessário a presença de ilumina­ção apropriada e o mais próximo possível parecido com o ambiente.

Alguns animais podem se mostrar mais sensíveis que outros, podendo manifestar sinais associados a intoxi­cação por UVB (deixam de comer, ficam letárgicas, diminuem a ativida­de, apresentam pele acinzentada ou ate escurecida). Todos estes sintomas re­vertem apos a suspensão da radiação.

Dois pontos importantes para as pessoas que resolvem iniciar seu con­tato com repteis: a radiação UVB e filtrada pelos vidros do aquário/terra­rio, de nada adiantando expor o ani­mal sob estas condições. 

A segunda coisa é que, ao expor seu pequeno lagarto ao sol, por ser de tamanho reduzido, ele ira perder água e au­mentar seu calor excessivamente, podendo sofrer de hipertermia e morrer. O tamanho relativo de cada animal e muito importante, pois ha enormes diferenças entre um rain­bow lizard (Chemidophorus sp.) e um iguana verde, quanto ao tama­nho. Respeite-as.

Agora resta a pergunta: Qual lâmpada escolher? De acordo com um grande herpetologista, que foi o antigo supervisor do departamen­to de repteis do San Antonio Zoo­logical Gardens, Joseph Lazlo quanto mais próximo for o espectro da lâmpada fluorescente do espectro solar (que foi estimado como index cromatico ou C.R. igual a 100), melhor a lâmpada para a ob­tenção de radia~ao UVB. Lazlo re­comendava que este indice (ou in­dex) nao fosse inferior a C.R. 88.

Joseph Lazlo não está mais entre nós, mas seu trabalho ate hoje e forne­ce diretrizes para a fabrica~ao de lâm­padas que satisfaçam as condições por ele estudadas. No Brasil, só importan­do, pois não acho nada semelhante, portanto, procurar em lojas de terra­riofilia é a opção certa para todos. 

Observe na embalagem e procure o valor do index cromatico (C.R.) e veja se a lampada satisfaz as necessidades do seu animal.
O fotoperíodo da maioria dos répteis e de 12/12 (ou seja, 12 ho­ras dia e 12 horas noite), varian­do pouco de acordo com a espé­cie, mas de alta varia~ao na épo­ca reprodutiva. Dados individuais sobre cada espécie devem ser mi­nuciosamente recolhidos para que no futuro seja facilitada a chance de êxito reprodutivo em criações particulares.

É importante lembrar que os animais, quando expostos a luz, calor, umidade ou outra coisa, de­vem ter a opção de ficar ou sair do foco de luz e/ou calor. O ideal e que se faça um gradiente de ca­lor no terrário e, quanto a luz, sejam oferecidos locais para que o animal possa se obrigar sempre que sentir esta necessidade. 

Qual­quer duvida que você possa ter sobre seu animal de estimação ou qualquer sintoma de doença, não deve ser deixado de lado, pois, veterinários, assim como médicos e outros profissionais, não fazem milagres. Lembre-se: quanto me­nor a espécie, mais rápida a evo­lução dos sintomas de uma deter­minada doença. Fique atento e procure saber mais sobre seu animal. Afinal, ele e seu! E precisa de você.

Ademar Luiz G. do Couto
https://ademarcouto.wixsite.com/ademarcoutovet

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