Anorexia em Répteis – Causa ou Conseqüência?
No campo da
veterinária, em se tratando de clínica de animais selvagens, a maior causa de
patologias é por erros no manejo com o animal, seja por falhas de manejo
alimentar, quando há oferta de alimento inadequado, sem variação nutricional ou
por excesso de determinado nutriente, que impede a absorção de outros, vícios
alimentares decorrentes da farta oferta de alimentos, dificuldade de apreensão
dos alimentos pelo tipo ou tamanho oferecido, enfim por vários motivos, por
falhas no manejo do recinto, e aí vão mais um monte de possíveis motivos,
passando por recintos inadequados por tamanho exíguo, ou grande, proximidade de
predadores, presas, condições climáticas, substrato e outros demais motivos, o
que quero tentar mostrar aqui e vai ser uma constante no texto abaixo é que a
falta de apetite de seu animal não deve ser encarada como o problema em si, mas
deve se pensar que, por trás desta falta de apetite pode existir um fator
causador, este sendo de grande importância, pois quando devidamente
diagnosticado e debelado, o animal volta ao normal e tudo fica bem.
Existem
diferentes causas que levam seu animal a não se alimentar direito, estas causas
tendem a variar de freqüência de acordo com a espécie envolvida, ou seja,
existem causas mais comuns p/ um jabuti parar de comer, e outras diferentes
para um iguana fazer o mesmo, de forma que nos devemos conhecer bastante a
biologia e comportamento da espécie envolvida. Abaixo tentarei expor algumas
causas de anorexia nas mais comuns de répteis e anfíbios:
Infecções
– Pelas mais diferentes causas. Estas são as patologias mais comuns na maioria
das espécies de répteis e anfíbios. Podem ser causadas por bactérias, fungos,
rickétsias, vírus, etc... Quando o problema se manifesta e você observa seu
animal parar de comer, tenha certeza que seu animal já esta com o problema há
algum tempo, dependendo do agente causal, pois você não notará os estágios
iniciais de infecção e a fase na qual o agente infectante leva para se estabelecer
dentro do organismo, que já tentou debelar a infecção no momento em que esta
chegou.
Partindo deste
princípio dá para notar que estamos em ligeira desvantagem em se tratando de
chegar ao fim do problema, portanto, quanto mais tempo passar para tomarmos alguma
providência, mais a infecção irá avançar e as chances de sucesso de qualquer
tratamento estarão comprometidas. O veterinário, ao consultar seu animal irá
perguntar fatos a respeito de como você percebeu o problema e a quanto tempo
ele está manifesto, alem de outras perguntas a respeito do ambiente e manejo ao
qual seu animal é exposto.
Seu animal deverá ser submetido a exames de
sangue e fezes, e caso o veterinário ache necessário, ele fará exames
complementares, dependendo da necessidade e do caso específico. Em casos mais
complicados, há necessidade de se instaurar uma terapia de emergência, de forma
que se tente melhora clinica enquanto o resultado dos exames não chegar, pois
alguns demoram dias para sair resultados.
Verminoses
– Os parasitas intestinais, pulmonares e parasitas de demais órgãos internos,
como, por exemplo, os hemoparasitas, que parasitam o sangue de algumas
espécies, podem vir a ser a causa de processos inflamatórios e desequilibrar o
organismo em seu estado normal. Cabe ao proprietário consciente levar seus
animais para consultas e exames periódicos, exames estes que incluem os
parasitológicos de fezes e outros, de forma a detectar rapidamente este tipo de
parasito e de acordo com a espécie e manejo individual, se planejar um protocolo
de tratamento adequado.
Uma das
maiores causas de mortalidade em animais recém adquiridos e de origem natural
(animais coletados em natureza) são as verminoses, e os principais sintomas são
as diarréias, que podem vir de várias formas e a falta de apetite, decorrente
do estágio avançado de infestação.
Ectoparasitos
- A espoliação sanguínea de alguns ácaros e as feridas infligidas por
carrapatos e demais parasitas externos levam ao enfraquecimento progressivo
e morte de seu animal. Evite parasitas
externos. Faça o controle de forma adequada e utilizando meios seguros.
Problemas
metabólicos - Dependendo da espécie, sexo e biologia os problemas ligados
ao metabolismo podem ocorrer e devem ser evitados sempre que possível, vamos
citar alguns exemplos aqui, como nos casos de tartarugas que não possuem local
correto para colocar ovos e terminam prolapsando útero ou/e intestinos e
geralmente vindo a óbito se não tratadas a tempo ou nos casos de quelônios que
vivem em regiões temperadas e costumam hibernar, como Testudo graeca
ou T. hermanii ou Terrapene sp. Só para citar
exemplos clássicos pois isto também ocorre em serpentes. Existem casos em que
iguanas sem parceiro sexual inibem a oviposição ou também não possuem locais de terra.
Em caso de
animais sofrendo de carências vitamínicas e minerais estes por vezes param de
se alimentar quando o quadro clinico se torna crítico. Aí se torna necessário a
ajuda de um profissional especializado, que vai avaliar a conduta a ser
adotada.
Um ponto
importante para os “mais espertos”: A prática de alimentação forçada ou a
utilização de sondas esofágicas por parte de profissionais não especializados
ou por hobistas “antigos no ramo” tem causado muitas mortes por perfurações e
por introdução de alimento no pulmão, causando asfixia imediata.
Para quem
continuar achando que é isso muito difícil de ocorrer, eu tenho slides deste
tipo de problema, inclusive feito por gente muito próxima do meu convívio
direto.
Quando for necessária a introdução de
cateteres esofágicos em seu estimado réptil ou anfíbio, deixe este tipo de
procedimento para o Dr. Gustavo Dutra, que entende do negócio ou para
profissionais deste mesmo nível. Seu animal só vai ter o que agradecer.
Erros de
manejo ou manejo inadequado – o simples fato de se ter um iguana em
ambiente seco ou de se ter um camaleão que só come tenébrio já justifica a
falta de apetite que até eu estou sentindo!
Para se ter um
animal de estimação, o mínimo que se pode esperar de uma pessoa responsável é
que ela se mate de estudar para aprender cada vez mais sobre o animal
adquirido.
Sempre faça
seu dever de casa. Esta é a condição sem a qual você será sempre cogitado como
o mero irresponsável em se tratando de criar animais, o que acarretará
problemas para sua imagem pessoal e problemas para todas as pessoas que
compartilham o mesmo hobby que você.
Como foi
delineado acima, a anorexia em répteis e anfíbios é apenas um sintoma, cabendo
ao criador responsável a atitude de levar seu animal para o profissional
especializado, de forma que, ao se juntar os dados colhidos sobre o animal e
suas atitudes, comportamentos, recinto e
características, os dados colhidos após exame clínico do animal e os dados de
exames laboratoriais, possa ser viável o diagnóstico de uma possível causa da
anorexia e se estabeleça um protocolo de tratamento seguro e viável para cada
espécie e para cada individuo,
respeitando-se suas características físicas, morfológicas e principalmente, o
quadro clínico no qual este animal se encontra.
Ademar L. G. do Couto
Médico Veterinário
https://ademarcouto.wixsite.com/ademarcoutovet
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